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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Agnaldo Timóteo tem 14 CDs lançados


Duas caixas com a obra dos anos 70 e dois discos inéditos

Publicado em 26/08/2012, às 12h08

José Teles


Agnaldo Timóteo é de Minas (nasceu em Caratinga), mas foge à regra de que o mineiro trabalha em silêncio. É dotado do maior vozeirão, bota a boca no trombone quando lhe dá na telha, e falsa modéstia não é um dos seus predicados. Inevitavelmente citado quando o assunto é brega, ele diz não ter nada contra quem é, mas não aceita a carapuça: “Isto é um conceito das pessoas. Não sou brega. Sou de alto nível. Vou a vários países do mundo, loto casas de show na Alemanha”, rebate o cantor, que acaba de lançar dois CDs de uma só tacada, Recuerdos de mi juventude e Minha oração.
Os CDs foram produzidos pelo requisitado Thiago Marques Luiz. Por sua vez, a Discobertas, pequena gravadora carioca que vem se notabilizando pelo resgate de álbuns fora de catálogo, manda às lojas duas caixas com a discografia do cantor na EMI - Odeon, nos anos 70. Cada caixa traz seis discos, reproduzindo a arte das edições originais, todos estavam fora de catálogo.
Ele adjetiva de “maravilhoso” o trabalho de Marcelo Fróes, produtor e pesquisador de música popular na Discobertas, mas não poupa sua antiga gravadora: “Meu disco Obrigado querida (1966) vendeu não sei quantos milhões, naquela época não sabia de vendagens. Sei que ninguém vendia mais do que Agnaldo Timóteo no Brasil. É o LP que tem Meu grito, que Roberto Carlos fez para mim. O disco que tem Os verdes campos da minha terra, Green green grass of home, eu gravava as versões. Gravei por exemplo A casa do sol nascente, versão de The house of the rising sun, dos Animals, e minha gravação é muito melhor do que a deles. Mas a Odeon foi me roubando, sempre me roubou, o termo é este mesmo. Resultado: hoje está falida”.
Os dois CDs novos são considerados por ele trabalhos especiais, sobretudo o Minha oração, uma coleção de canções movidas pelas religiosidade explícita – Luz divina (Roberto e Erasmo Carlos) ou Queremos Deus (domínio público) – ou implícita, como Súplica cearense (Gordurinha e Nelinho) ou Oração de um jovem triste (Alberto Luís). “Há mais de 30 anos meu público me cobrava um disco cantando para Jesus. Ora, em todas as minhas músicas cantei para Jesus. Quando decidi fazer o CD, não iria cantar o que eles chamam de gospel. Optei por músicas já gravadas, mas para todos os credos”.
O segundo CD traz canções em espanhol que ele ouvia na juventude, com algumas até disputou concursos de calouros. Clássicos latino-americanos como Esta tarde vi llover (Armando Manzanero), Tu me acostumbraste (F. Dominguez), ou Volver (Carlos Gardel/Le Pera). “Não é o meu primeiro disco em espanhol. Gravei quatro antes, todos horrorosos, feitos às pressas pela gravadora, para tentar me vender para o mercado latino”, explica Agnaldo Timóteo, em entrevista por telefone, de São Paulo, onde mora, e de cujo cidadãos é um dos representantes na Câmara Vereadores.
A conversa acontece depois que ele assiste, no eu gabinete, ao horário político na TV. Agnaldo Timóteo disputa mais uma reeleição à vereança. Assim como não aceita o rótulo de brega, refuta a generalização de que todo político é corrupto. “Macaco quando não pode comer a banana diz que ela está podre. Quem faz viaduto? Estrada? Aeroporto? É o político. Datena, que é meu amigo, vive batendo nos políticos na TV. Mas quem construiu a estrada para Datena passear com o carro blindado dele? Os políticos”. Ele concorre, com o número 22122 ao sexto mandato, acha que será eleito: “Mas se não for, paciência, vou continuar minha vida”, garante o paradoxal mineiro, que já foi ferrenho crítico do PT, mas que hoje elogia Lula e gravou um disco em homenagem à Dilma Roussef, A força da mulher (2011).
Dos mais de 50 discos que gravou (sem contar com os primeiros compactos e as várias coletâneas, quase todas saídas à sua revelia), ele aponta os primeiros álbuns na Odeon como os prediletos, Surge um astro (1965), O astro do sucesso (1966), e Obrigado querida. Todos são compostos basicamente de versões de hits internacionais, quando ele estava no time do programa Jovem guarda: “Cantei muitas vezes no programa, Hava nagila, A casa do sol nascente, porém este crioulo não existe quando falam desta época da TV Record. Os únicos pretos que aparecem lá são Jair Rodrigues e Wilson Simonal
Agnaldo Timóteo bancou os dois discos novos, mas não se ilude, sabe que irão tocar pouco no rádio. “Hoje, nem Roberto Carlos toca mais, quanto mais Agnaldo Timóteo. Tem sertanejo faturando oito milhões por mês. Não é como no meu tempo. Eu sou da época de Garrincha, eles são da geração Neymar”, compara Timóteo que, em compensação, diz que com voz igual a dele restam poucos. “Bons cantores hoje? Tem Agnaldo Rayol, Emílio Santiago, Cauby, mesmo aos 82 anos. Voz é um dom, e quem respeita este dom não cheira cocaína, nem fuma maconha, Mas tem ainda alguns cantores jovens muito bons. Robson, aquele O Anjo, continua cantando muito bem. Tem uma menina que vi num programa de TV, Thais, que é um escândalo. Mas são muito poucas as vozes como as de Jessé, Tim Maia”.
Em seus discos que chegam às lojas, Agnaldo Timóteo continua, aos 76 anos, fiel ao estilo, e a um formato. Ao contrário dos bregas, que adotam o modelo “deixa que eu chuto”, ele não dispensa arranjos feitos por um maestro (neste, Daniel Bondaczuk, também responsável pela direção musical) e de vestir ternos bem cortados ao posar para as fotos das capas.


o mesmo tempo em que elogia as caixas Agnaldo Timóteo anos 70 vol.1 e 2, o cantor alfineta a antiga gravadora: “É, remasterizaram, estão bem melhores”. A verdade é que ele é um dos raros artistas “povão” que teve o privilégio de um tratamento classe A. Cada CD tem capinha reproduzindo a original, alguns com faixa bônus e todos com textos assinados pelo produtor Thiago Marques Luiz. Dos 12 discos um continuava inédito no Brasil Agnaldo Timóteo canta en castellano, de 1971. Um álbum direcionado para o mercado argentino, com versões de canções populares como Soñar contigo (o sucesso de Adilson Ramos), El regresso del bohemio (o clássico de Nelson Gonçalves), ou Pasion de un hombre (uma das mais conhecidas de Waldick Soriano). Um dos discos que Timóteo enquadra entre os “horrorosos”, porque na época não achava estar preparado para carreira internacional.


Os brutos também amam (1972) é certamente o disco mais bem-sucedido da então chamada música cafona na década de 1970. A faixa que dá nome ao disco é assinada por Roberto e Erasmo Carlos, mas Agnaldo revelou que foi feita só por Roberto, a partir de uma confissão sobre um relacionamento que vivia na época. No mesmo álbum, ele foi muito tocado com Fala amorosamente (Speak softly love), tema de Nino Rota para O poderoso chefão.
Outro grande sucesso foi Galeria do amor (1975), composição do próprio Timóteo, inaugura as canções de duplo sentido (segundo Timóteo), mas que geralmente são consideradas gays. A galeria em questão é a Alaska, lendário ponto de encontro de lésbicas e gays em Copacabana. A música foi grande sucesso, assim como Perdido na noite (também assinada pelo cantor) que deu nome ao LP de 1976 e foi uma campeã de execução no rádio. Além dela, Tristeza danada (Majó) e Olhos nos olhos (Chico Buarque). A temática continua, mais implícita, em Eu pecador, um tango de Agnaldo Timóteo, que fala de “um amor proibido pela vossa lei”. Mais uma vez uma composição do cantor dá nome a um disco, Eu pecador (1977).

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